Se Você Está Considerando Fazer Um Parto Domiciliar...
- Bárbara
- 18 de abr. de 2018
- 5 min de leitura

Meu primeiro parto, descrito em um post anterior, foi feito em um hospital porque meu filho nasceu prematuro e eu precisei ser internada de emergência. Mas sempre sonhei em receber meu filho em casa, e em novembro de 2017 pude ter essa experiência tão aguardada! Como mencionei em meu relato de parto domicilar, o Nícolas nasceu em minha cama. Fui acompanhada a cada minuto pelo meu marido incrível e uma equipe super habilidosa e sensível, que me ajudaram a receber o meu filho de uma forma amável e respeitosa! O parto domiciliar foi em geral como eu esperava, mas algumas questões me surpreenderam bastante! Algumas positivamente, outras não.
O tópico de parto domiciliar no Brasil ainda é muito polêmico. Estamos dando os primeiros passos em direção ao parto humanizado (seja normal ou cesária), e a ideia de um parto em casa ainda parece alienígena para muitas pessoas. Em geral, o parto domiciliar está amarrado a duas imagens estereotipadas:
1- Antigamente se fazia parto domiciliar mais no interior pois o acesso aos hospitais era limitado, e como as condições eram mais simples, a mãe e o bebê corriam muitos riscos.
2 - Fora essa situação, as únicas pessoas que fazem partos domiciliares são hippies irresponsáveis e loucos. Imaginam mulheres parindo sozinhas no meio do mato uivando para a lua.
Minha proposta hoje não é de defender o parto domiciliar ou de fazer qualquer tipo de apologia. Mas vale a pena dizer que hoje temos equipes de enfermeiras e médicos obstetras extremamente profissionais que fazem um trabalho muito sério nessa área. Eles tem um critério muito rígido em relação as mulheres que podem parir em casa, acompanham o pré-natal minuciosamente e preparam planos A, B e C. Nunca esperam até o último minuto para fazer uma remoção para o hospital e trabalham muito bem a questão do emocional das mulheres antes, durante e após o parto.
Queria compartilhar a minha visão PESSOAL sobre vantagens e desvantagens do Parto Domiciliar x Parto Hospitalar. Falo única e exclusivamente a partir das minhas experiências pessoais, e tenho como objetivo principal ajudar as mulheres que pensam em ter um Parto Domiciliar para se prepararem em relação a alguns detalhes que me parecem importantes. - Cuidado Individualizado: As vantagens que me fizeram optar pelo Parto Domiciliar eram, em sua maior parte, relacionadas à forma como a parturiente e o recém-nascido são tratados e acolhidos durante o processo. Os hospitais, que em geral, agem como máquinas, priorizam eficiência em seu funcionamento, com partos mais rápidos e protocolos generalizados para facilitar o cuidado em massa. No Parto Domiciliar, a equipe mantém o olhar atento e individualizado durante todo o pré-natal, procurando não só respeitar, como defender o desejo e o ritmo da mulher em seu trabalho de parto. Os bebês são recebidos com tranqüilidade e seus sinais vitais são acompanhados de perto para definir quais interferências serão utilizadas, se forem necessárias. Caso não haja necessidade, o bebê permanece no colo da mãe por tempo indeterminado, tendo a possibilidade de conhecer a sua nova família, absorver o ambiente terreno, mamar e gozar do prazer de se encontrar nos braços de quem tanto o aguardou. A equipe faz uma orientação, com antecedência, sobre quais são os procedimentos disponíveis para os primeiros cuidados do recém-nascido (colírio para conjuntivite, vitamina K, etc) e da recém-parida (ocitocina, dequitação manual da placenta, etc). Mas quem decide, no fim das contas, é a mulher! E para mim, a cereja no topo do bolo é a possibilidade de um parto sem episiotomia! Claro que esse não é um previlégio de um parto domiciliar, mas ainda são poucos os médicos que já removeram esse hábito da idade das pedras que era utilizado rotineiramente! Conheço obstetras que colocam "parto humanizado" no cartão mais saem cortando todas as mulheres que passam por seus "cuidados". E acredito que um ambiente tranquilo e acolhedor, que o parto domiciliar é capaz de proporcionar muito mais do que um hospitalar, pode diminuir a incidência de rupturas. - Atendimento em Domicílio: O pacote de parto domiciliar que contratamos incluía uma visita da enfermeira obstétrica nas primeiras 24hs, uma visita da enfermeira neonatal nas primeiras 48hs e a primeira consulta com uma pediatra humanizada em domicílio com aproximadamente 1 semana de vida. Durante essas três consultas, os profissionais que nos visitaram fizeram um atendimento super pessoal, sem pressa, observando o nosso filho, perguntando como nós nos sentíamos, ajudando no início da amamentação e tirando todas nossas dúvidas e anseios. O alívio e o conforto de não ter que sair de casa com um bebê recém-nascido para fazer todas essas consultas, para nós, foi excelente! Claro que o parto domiciliar não é para todas! Se a parturiente ou o seu companheiro tiverem alguma insegurança em relação a essa ideia, forçar uma tentativa de parto nesse ambiente pode ser desastroso! Vamos falar agora sobre as desvantagens do parto domiciliar, ou aqueles pequenos detalhes que me surpreenderam negativamente:
- Bagunça: Por mais que a equipe seja super cuidadosa em manter o ambiente relativamente limpo durante o trabalho de parto, sempre acaba sobrando uma arrumação de pós-parto. Aqui em casa tive familiares que prepararam refeições para as parteiras e cuidaram da limpeza da cozinha durante todo o processo. Mas se você mora sozinha em sua cidade ou não vai ter quem cuide desses detalhes, pode acabar com uma pia cheia de louça e muitos tapetes e roupas de cama para lavar! Sugiro incluir a contratação de uma faxineira nesse período inicial de pós-parto ao orçamento do parto domiciliar, só para garantir uma entrada no puerpério com mais tranquilidade. E se possível, já tenha alguém responsável por preparar as refeições durante os primeiros dias de vida do bebê, ou estoque o freezer de pratos congelados e saborosos para facilitar a vida de todos envolvidos nos cuidados do recém-nascido.
- Visitas Pós-Parto: Meu plano inicial era de começar a receber visitas após uma semana do parto, e que durante o primeiro mês de vida do bebê restringiria bastante as visitas em geral. Mas como o parto acontece em casa e em um parto normal já saímos andando logo depois de parir, acho que o povo se sente mais à vontade para visitar! No fim das contas a nossa família estava tão animada com a chegada do menino que nós acabamos abrindo mão da ideia de restringir as visitas no início. Mas como o puerpério não é brincadeira e no início as emoções estão à flor da pele, as visitas podem acabar atrapalhando um pouco esse processo. - Responsabilidade: É claro que o parto domiciliar traz uma responsabilidade muito grande para a equipe e para os pais por acontecer fora de um hospital e longe de uma equipe médica. Esse peso sempre foi evidente para nós, até porque no Brasil as pessoas ainda tem muito medo de parto domiciliar e são bastante explícitas em relação ao que elas pensam quando compartilhamos nossos planos de parir em casa. Mas o que me surpreendeu foi como esse peso da responsabilidade se instala APÓS o parto. Quando a equipe vai embora e você se encontra em casa, sozinha, com aquela pequena criatura indefesa e frágil é que a responsabilidade pesa! Imagino que isso aconteça também com pais cujos filhos nasceram em hospitais, mas acredito que seja mais intenso para os pais que não passaram as primeiras 24-48hs sob a vigilância próxima de profissionais da saúde. Mas ao mesmo tempo, apesar de nossa equipe não estar sempre presente fisicamente, as enfermeiras e a pediatra se mantiveram disponíveis pelo telefone o tempo todo e acompanharam o pós-parto de perto. Nos sentimos amparados o tempo todo, apesar das inseguranças ocasionais de pais de primeira viagem. Mas para os pais mais "assustadinhos" talvez seja um ponto importante a se considerar.
Leia também: o meu relato de parto domiciliar.
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