Ao Meu Pequeno Theo
- Bárbara
- 5 de set. de 2017
- 6 min de leitura

Há exatamente um ano minha vida foi transformada por um pequeno ser, meu primogênito Theo. Sua história foi breve e sua vida na Terra curta, mas sua existência foi bela e trouxe muitos ensinamentos para mim, meu marido e todos ao nosso redor. Gostaria de dar o primeiro passo a esse novo blog fazendo uma breve homenagem ao meu filho e à equipe maravilhosa que trouxe ele ao mundo e que nos acompanhou durante a sua despedida. Essa é a história do Theo, meu menino-Deus.
O Theo foi um bebê muito esperado e amado. Eu e meu marido já conversávamos sobre a ideia de ter filhos desde o início de nosso relacionamento e tínhamos uma ligação muito forte à ideia do Parto Humanizado. Debatíamos sobre questões de educação e frequentávamos grupos sobre parto. Ele, como acupunturista e estudante de medicina, se interessava muito no assunto inclusive profissionalmente. Sempre entendi o parto como um momento desafiador, e como todo grande desafio, poderia ser fonte de uma experiência muito engrandecedora e transformadora. Nos últimos anos comecei a me interessar mais especificamente com a idéia de um Parto Domiciliar Planejado. A idéia de parir em meu próprio tempo, e em um ambiente acolhedor e familiar, me atraía profundamente.
Quando engravidei, comecei a procurar uma equipe que pudesse fazer um Parto Humanizado e possivelmente um Parto Domiciliar. Soube desde a primeira vez que conheci as meninas da Nascentia que seriam elas que iam me acompanhar nesse momento tão especial. Desde nosso primeiro encontro senti uma conexão muito forte com as enfermeiras obstétricas, a Lissandra Martins e a Leticia Nicolletti. Fechamos um contrato com a Nascentia que incluía o pré-natal compartilhado, com as enfermeiras e o obstetra da equipe, o Dr. Luiz Fernando Petrucce. O nosso relacionamento com a equipe foi se fortalecendo e minha barriga foi crescendo. Minha mãe costurava coisinhas lindas para o nosso filho, nossos amigos nos presenteavam com roupinhas fofas, meu marido lia histórias para a minha barriga todas as noites, e eu ia preparando os detalhes para o chá de bebê do Theo.
Tudo estava dentro dos conformes, meus exames estavam ótimos e meu pré-natal estava indo super bem! No dia do meu aniversário, eu estava com 28 semanas de gestação e acordei com uma cólica estranha. Meu marido saiu pra faculdade e eu fiquei deitada preparando as decorações para o nosso chá de bebê, que seria dois dias depois. Mas as cólicas foram ficando mais fortes e eu percebi que algo estava errado. Sabia que não era o momento certo e comecei a chorar descontroladamente. Entrei em contato com a Lissandra e a Leticia, e elas me mandaram ir logo para a emergência. Meu marido chegou em casa e fomos para o hospital.
A médica no hospital verificou que eu estava de fato tendo contrações, mas fez um toque e verificou que meu colo ainda estava bem fechado. Fui internada e passei a madrugada mais difícil da minha vida. Eu, meu marido e minha mãe passamos a noite em claro, assim como os enfermeiros e pacientes que estavam nos quartos próximos ao meu. Eu gritava intensamente de dor, e a medicação não segurava as contrações de jeito nenhum. Tive uma reação séria ao Buscopan Composto e meus batimentos cardíacos foram a 200 bpm em repouso.
O Dr. Luiz Fernando não estava disponível esse dia, mas no dia seguinte de manhã ele já estava lá para me ver e conduziu o tratamento daí pra frente. A sua presença nos deu muita segurança e tranquilidade. Ele explicava todo o processo detalhadamente, estava disponível dia e noite para tirar nossas dúvidas e resolver problemas (que por conta do sistema desorganizado do hospital, infelizmente eram muito recorrentes), respeitava nossas escolhas e atendia pacientemente todas as ligações preocupadas da minha mãe - que eram muitas! Seguimos com medicação venosa no intuito de interromper o processo de parto prematuro que tinha se iniciado na sexta-feira, mas continuei tendo contrações por mais dois dias. O desconforto era intenso, principalmente porque eu não podia me movimentar e permitir que o trabalho de parto evoluísse. Fiquei na maca por quatro dias ao todo, com um acesso enfiado em meu braço e com a tensão de receber um filho muito antes da hora.
No dia 5 de setembro, as contrações haviam finalmente parado e já estávamos todos mais tranquilos. O Dr. Luiz me visitou de manhã e meu marido resolveu ir para a aula, já que estava tudo bem. Mas logo depois do almoço comecei a sentir um desconforto grande e uma inquietude interna. Pedi pra minha mãe ligar para o Dr. Luiz e para o meu marido. Quando eles chegaram no hospital eu já estava com contrações intensas e praticamente ininterruptas. O Dr. Luiz fez um toque em mim e viu que eu já estava pronta para parir.
Fomos transferidos para o Centro Obstétrico, onde duas enfermeiras desconhecidas aguardaram comigo na sala de cirurgia (a sala de parto normal estava ocupada) enquanto o Dr. Luiz e meu marido trocavam de roupa. A sala estava fria, havia uma luz muito forte em cima de mim e aquelas pessoas estranhas me tratavam de uma forma muito desagradável, especialmente naquele momento de dor e confusão. Eu só chorava e chamava pelo meu marido, que me acompanhou em todos os momentos com atenção e dedicação incondicional. Mas logo eles entraram, as enfermeiras estranhas foram embora e a nossa querida enfermeira Leticia Nicolletti chegou, como um anjo caído do céu. Em poucos minutos o Dr. Luiz e a Leticia transformaram aquela sala fria e amedrontadora em um ambiente confortável e acolhedor: eles improvisaram uma cortina para tampar as janelas, diminuíram as luzes fortes e o ar-condicionado frio, colocaram umas músicas gostosas para tocar no celular e me permitiram parir.
A Leticia, com seu olhar meigo e profundo, me conduzia em algumas posições para ajudar o desenvolvimento do parto. Quando batia o desespero e ela sentia que eu estava prestes a cair em lágrimas, ela falava com firmeza “Não se deixe entregar… Força! Tá tudo certo. Você está indo muito bem.” O meu marido me segurava entre as contrações para que eu pudesse relaxar e fazia algumas massagens nas minha costas para aliviar a dor que eu sentia na bacia. Ele estava presente com toda a sua alma e seu um apoio foi imensurável. De longe, a Lissandra acompanhava todos os acontecimentos, angustiada por estar fora da cidade em um curso. Mas sabemos que ela esteve presente em nosso parto, pois nos preparou com diversos cursos, como o Chá de Parto e o de Alívio da Dor no Parto, que fizemos com a Nascentia durante o pré-natal.
O Theo nasceu às 18h28. O Dr. Luiz fez questão de colocá-lo em meu colo porque sabia que logo ele seria levado pelas pediatras. Ele nasceu muito quietinho e pequeno, e foi levado para receber os devidos cuidados, acompanhado pelo meu marido. Mas os pulmões do pequeno Theo não funcionaram como deveriam, e alguns minutos depois meu marido veio me contar que nosso filho havia partido. O Theo veio para os meus braços, então, enrolado em um pano quentinho e com um gorrinho na cabeça. Ele estava sereno, como em um sono profundo. Seu rostinho era lindo e sua pele macia. Reconheci meu nariz em seu nariz, e o queixo do meu marido em seu rostinho meigo. Segurei ele com a certeza única de uma mãe que segura seu filho. Fizemos nossas preces para que ele pudesse ter uma passagem muito iluminada e nos despedimos daquele corpinho perfeito que criamos juntos.
O Theo foi um bebê muito amado e esperado, que teve uma passagem muito rápida mas muito importante em nossas vidas. Confiantes de que tudo acontece por um motivo, procuramos focar nos presentes que a sua existência deixou pra trás. Foi um momento muito triste, difícil e desafiador, mas também muito belo e mágico. Eu e meu marido nos aproximamos muito durante todo o processo, além de nossos familiares e amigos. O parto foi uma experiência incrível e a equipe Nascentia foi parte imprescindível dessa história. Sem a presença desses profissionais tão dedicados e iluminados, esse momento poderia ter sido muito mais difícil e sofrido.
Deixo vocês agora com um pequeno poema que meu marido escreveu para o nosso filho:
Menino Theo
(a Theo Caltabiano Carneiro Frauzino)
Theo menino, menino Theo
Suspiro no vale de um breve momento
Um raio de luz na paz de um alento
Do céu ao ventre, do ventre ao céu.
Num só dia, tão linda surpresa
Num só dia, tão triste partida
Alegria! Tristeza! É a roda da vida...
Theo nos ensina com tanta clareza.
Theo menino, pinguinho do céu
Conta, querido, aonde tu vais?
Que estrela visitas e fazes brilhar mais?
Lembra de nós, pequeno, tenro Theo.
Theo menino, menino Deus
Gotinha de orvalho num mar de amor
Deixa tua benção e volta ao Senhor
Filho amado, esperado, adeus.
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