Como Ensinar Uma Criança a Dividir
- barbaracarneiro9
- 16 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Dividir - essa palavra aparece em todos os parquinhos, festas infantis, jardins de infância e encontros de família. É difícil assistir nossos filhos em um confronto social, arrancando um brinquedo da mão de outra criança ou segurando seu carrinho favorito com toda força enquanto balança a cabeça e diz "não". Queremos que nossos filhos sejam bem-sucedidos socialmente, que tenham bons amigos e saibam compartilhar. A verdade é que crianças até os três anos de idade não sabem dividir, não compreendem bem o conceito de possessão e estão ainda começando a desenvolver a habilidade de brincar umas com as outras. Em grande parte, a interação entre crianças dessa idade acontece de forma paralela. Eles podem até brincar lado a lado, mas se não receberem instruções externas, não são capazes de fazer a troca social que entendemos como adultos e que muitas vezes esperamos dos pequenos também. Muitas vezes eles pegam brinquedos de outras crianças e dizem "meu", mesmo não sendo algo que pertence a eles. Isso acontece porque eles tem pouca compreensão da idéia de possessão. Muitas vezes "meu" significa "eu quero brincar com isso", ou "eu estou segurando isso" ou simplesmente "eu me interessei por isso". E quem já acompanhou um grupo de crianças no parquinho sabe que é muito comum todas as crianças se interessarem por um mesmo objeto, mesmo quando temos dez objetos iguais disponíveis! Podemos entender que o interessante para elas nessas situações não é o objeto em si, mas a interação que o objeto proporciona naquele ambiente social.
Magda Gerber, uma das mulheres por trás do "Respectful Parenting" (muitas vezes conhecido como método Pikler) traz uma perspectiva diferente sobre esses conflitos e a interação que acontece entre as crianças nessa idade. Ela sugere menos intervenção dos adultos e mais observação cautelosa, se tornando assim possível perceber que muitas vezes o que vemos como conflitos entre as crianças podem ter menos a ver com estresse e mais com curiosidade e vontade de explorar/interagir. Sob essa perspectiva, podemos ver que a ação dos pequenos de tirar e entregar brinquedos e objetos uns dos outros nada mais é do que uma das formas que eles encontram de socializar entre si. Magda traz a ideia de que não existem vilões e vítimas no mundo das crianças pequenas. Esse conceito somos nós, os adultos, que aplicamos sob nossa perspectiva. Se toda criança tiver espaço e liberdade para se expressar e explorar em contextos sociais, ela pode aprender de forma mais eficaz e duradoura sobre suas emoções e desenvolver autocontrole no futuro. Ocasionalmente haverão brigas, e essas podem eventualmente gerar machucados. Por isso Magda sugere que os adultos estejam sempre por perto, prontos para intervir quando for necessário trazer segurança para as crianças (tanto fisicamente quanto emocionalmente). Mas o que fazer quando duas crianças querem o mesmo brinquedo e o adulto próximo percebe que um conflito está surgindo? Magda sugere que os adultos mostrem seu apoio através de palavras simples, narrando o que está acontecendo e ajudando as crianças a nomearem as emoções que elas podem estar sentindo. No lugar da intervenção direta, um adulto poderia simplesmente dizer "Pedro, você estava segurando o carro e agora a Sofia está com ele." ou "Você e a Sofia querem o carro." Muitas vezes isso é suficiente para as crianças se acalmarem. Elas podem até continuar segurando o brinquedo, uma puxando para um lado e outra para o outro. Elas podem reclamar, mostrar que não estão satisfeitas com a situação. E tudo bem. Não existem vítimas no mundo das crianças, lembra? Somente exploração e oportunidades de aprendizado. Se uma criança demonstrar que quer machucar a outra, aí sim a intervenção será bem-vinda. Não para repreender, mas colocando a mão gentilmente entre as crianças e demonstrando como se deve ser gentil. Ações falam mais do que palavras, principalmente quando estamos tratando de crianças. Quando for narrar os acontecimentos, faça de forma neutra e sem julgamentos. Mostre que você está por perto e está tudo sob controle.
Magda ressalta a importância de criar ambientes onde crianças possam interagir com outras crianças de forma espontânea e livre. Ela sugere até encontros semanais entre crianças da mesma faixa etária, onde os adultos estarão por perto para observar e aprender com seus filhos. Se esse encontro for realizado na casa de uma das crianças, Magda recomenda ter alguns objetos simples para que os pequenos possam brincar e que sejam utilizados somente para esses encontros, gerando menos oportunidade para crises de "ciúmes" entre as crianças e seus brinquedos. Ainda vivemos em uma sociedade que acredita muito que o ensino acontece através das palavras, do sermão, da imposição de regras. Mas o que a ciência diz é que as crianças nessa idade são esponjas e absorvem todo o conhecimento através da observação. Magda sugere que em primeiro lugar nós trabalhemos no exemplo que nós damos no dia-a-dia para nossas crianças, mostrando como agir com generosidade e narrando de forma sincera quando houver uma oportunidade de dividir algo com nossos pequenos. "Você está pegando o lanche do prato da mamãe. Pode pegar um pouco, eu divido com você." E quando eles mostrarem generosidade com outra pessoa, podemos dizer "Foi muito gentil da sua parte dividir os blocos com o João." E ter paciência. Acreditar que quando eles tiverem capacidade emocional e cognitiva de compartilhar, eles o farão. Se seu bebê de 1 ano e meio não quer que outra criança pegue a bola que ele estava jogando alegremente na grama, não quer dizer que ele é egoísta e que está correndo o risco de se tornar uma pessoa mesquinha no futuro. Pode ser que ele só esteja muito animado com a bola e não quer ser interrompido. Nada mais! Lembremos que as crianças são simples e puras. A maldade está nos nossos olhos.
Assista a um vídeo de dois bebês em um grupo de "Respectful Parenting" sendo monitorados por uma instrutora formada com Magda Gerber. Veja como eles se resolvem sozinhos e também como a facilitadora impede rapidamente que o menino bata na menina:
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