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Como Aplicar o Método Pikler em Casa

  • Bárbara
  • 8 de abr. de 2018
  • 6 min de leitura

Muito antes de me tornar mãe, já estudava sobre metodologias e filosofias de vida mais respeitosas para crianças. Utilizo técnicas como a da Disciplina Positiva de Jane Nelsen em minha sala de aula e fiz um enxoval para o meu filho baseado nas metodologias Montessori, Waldorf e na abordagem de Reggio Emilia. Recentemente me deparei com mais uma abordagem que tem me ajudado a criar novos parâmetros na forma como eu interajo com o meu filho. A abordagem RIE foi criada por Magda Gerber e sua sigla significa "Resources for Infant Educarers", e poderia ser traduzida como "Recursos para Cuidadores-Educadores de Bebês". Ela juntou os termos "educator" (educador) e "carer" (cuidador) em uma só palavra - educaring ou educarer - para mostrar que as atividades de cuidado íntimo como trocar a fralda e a roupa do bebê, dar banho e alimentá-lo, são oportunidades para aprofundar laços afetivos e também para aprendizagem.

A abordagem pode se resumir como uma forma de conscientização dos nossos bebês. Nós percebemos e reconhecemos eles como indivíduos únicos. Expandimos nossa consciência através da observação, permitindo que eles tenham o espaço que precisam para nos mostrar quem eles são e do que eles precisam. Nesse processo, também nos tornamos mais conscientes de nós mesmos. Através de uma prática constante de observação sensível, aprendemos a não tirar conclusões apressadas.

Reconhecemos que, assim como nós, os bebês tem sentimentos que eles querem expressar e que podem resolver por conta própria com nosso apoio, e aprendemos a diferenciar os sinais emitidos por eles de nossas próprias projeções. Tratamos os bebês como seres humanos, e não objetos, procurando respeitar seus sentimentos e suas vontades individuais, mesmo antes deles serem capazes de verbalizá-las. Assim como a metodologia Montessori, a filosofia de Magda argumenta que quanto menos os adultos intervirem, melhor, e sugere que a maioria dos pais se esforça demais em sua interação com os bebês.

A palavra chave no vocabulário de Magda Gerber, no entanto, é respeito: tanto pelas necessidades das crianças, quanto de seus cuidadores. Os bebês, desde seus primeiros dias de vida, são vistos, manejados e conversados como um ser humano que pensa, sente, e participa do cotidiano familiar. Frequentemente os bebês são tratados como objetos: passados de colo para colo, para saciar a vontade de adultos sedentos por segurar aquele pequeno ser. Sim, eles são muito fofos! Mas também são pessoas cuja individualidade merece ser reconhecida, e o seu ritmo natural e espaço merecem ser respeitados. Magda dizia que “Muitas coisas horríveis já foram feitas em nome do amor. Mas nada horrível pode ser feito em nome do respeito.”

Algumas formas de aplicar a filosofia de Magda Gerber em casa:

  • Comunique-se com seu bebê de forma autêntica. Utilize sua voz natural, mas de forma clara e talvez um pouco mais lenta. Use palavras de verdade e converse sobre coisas reais, especialmente quando estiver falando sobre aquilo que está acontecendo com o seu bebê naquele momento. Faça perguntas para o seu filho e dê a ele bastante tempo para processar a informação e até responder de sua maneira. Quando for dar banho no seu filho, por exemplo, explique o passo a passo de cada coisa que vai acontecer e as sensações que ele pode ter. Antes de limpar suas axilas, peça para que ele te ajude a levantar o braçinho. Mesmo que ele ainda não consiga fazer o movimento, dê a ele a oportunidade de tentar! Espere um momento, e diga "Posso te ajudar a levantar o braço?" e espere mais um pouco para que ele se prepare para o movimento. Pode parecer loucura! Mas os resultados são incríveis quando aprendemos a diminuir o ritmo e permitir que as crianças se expressem, da forma que for possível para elas! Aos poucos vamos aprendendo a perceber a forma que os bebês tem de reagir e nos responder, e o hábito de comunicação (falar E OUVIR, algo que poucos adultos sabem fazer!) vai surgindo entre pais e filhos.

  • Dê toda a sua atenção para o seu bebê durante esses momentos de cuidado íntimo! Às vezes encaramos essas atividades como obrigações e passamos por elas com pressa, mas são uma ótima oportunidade de nutrir o relacionamento entre pais e filhos, proporcionando às crianças a sensação de segurança que elas necessitam para depois se separarem de seus cuidadores e se envolverem em brincadeiras auto-direcionadas de forma independente. Magda defendia que o momento principal de conexão entre pais e filhos deveria acontecer durante as trocas de fralda, os banhos, e o momento da alimentação. Ela dizia que é muito melhor a gente dar 100% de atenção aos nossos filhos por parte do dia, do que dar um dia inteiro de atenção parcial. Ela propunha que fora dos momentos de cuidado íntimo, os pais disponibilizassem a oportunidade de brincadeiras ininterruptas e auto-dirigidas, oferecendo até mesmo aos bebês mais novos a chance de brincar livremente, observando com sensibilidade para não interromper desnecessariamente, e confiando que as escolhas de brincadeiras de nossos filhos são suficientes. Perfeitas, na verdade.

  • Permita que seus filhos desenvolvam habilidades motoras e cognitivas de forma natural e de acordo com seus ritmos natos e individuais, evitando "ensinar", restringir ou interferir nesses processos orgânicos e naturais. Nosso papel nesse processo seria de fornecer segurança, muitas vezes apenas com nossa presença e atenção incondicional. Muitas vezes pais e cuidadores acabam interrompendo o processo de aprendizagem natural dos bebês, explicando como fazer um movimento ou intervindo sem necessidade, roubando a oportunidade que aquela criança tem de criar seus próprios mecanismos de defesa e lidar com desafios em seu ritmo e da sua maneira. Adultos que tem a tendência a resolver todos os problemas de seus filhos - sejam pequenos ou grandes - acostumam as crianças a rapidamente pedir ajuda ao invés de tentar achar uma solução por conta própria, perdendo ótimas oportunidades de experienciar auto-realização e auto-confiança, e criando um senso de segurança que depende sempre da presença de um adulto.

  • Encoraje as crianças a expressarem suas emoções, aceitando-as abertamente e reconhecendo-as. Permita que as crianças resolvam problemas e vivenciem e aprendam com conflitos adequados à idade com nosso apoio. Se um bebê estiver chorando, evitamos dizer "Não, não.... Tá tudo bem!" ou sair por aí balançando e fazendo "Shhhh..." Procuramos observar o bebê e entender o motivo daquele choro. É possível que ele só queira chorar por um tempo para liberar alguma forma de estresse, e depois vá se acalmar. Também é possível que ele precise de nossa ajuda para resolver algum desconforto, mas sempre entendemos que não precisamos salvá-los de todas as tristezas do mundo. Procuramos ajudá-los e respeitá-los, mas buscamos aceitar os momentos difíceis como uma parte importante do aprendizado das crianças.

  • Valorize a motivação intrínseca e o direcionamento interno. No lugar de oferecer elogios vazios e exagerados como "Muito bem! Você é tão inteligente!", reconheça o esforço e o processo por trás das conquistas de seus filhos. Confie que seus filhos se conhecem melhor do que nós os conhecemos, permitindo que as crianças escolham atividades de enriquecimento, em vez de projetar nossos próprios interesses. Encoraje as paixões de seus filhos e os apoie a realizar seus sonhos. De acordo com Magda, “atividades espontâneas e auto-iniciadas tem um valor inestimável", e para isso os bebês deveriam ter a oportunidade de explorar livremente ambientes seguros e com um mínimo de intervenção possível de seus pais. O prazer envolvido na exploração e no domínio de novas habilidades é o melhor reforço que uma criança pode receber.

Magda Gerber frequentemente descrevia o relacionamento entre pais e filhos como “Dois adolescentes desajeitados aprendendo a dançar juntos”. Para a maioria de nós, essa nova visão dos bebês como indivíduos únicos já é uma mudança drástica da percepção que a maioria das pessoas tem das crianças. Magda nos desafia a aprimorar nossas habilidades de observação como cientistas, ouvir os sentimentos do próximo sem julgamento como terapeutas, e esvaziar nossas mentes para presenciar o momento como monges budistas. Aos poucos, vamos aprendendo a entender melhor os nossos filhos, e essa sabedoria nos ensina a enriquecer também a vida adulta e os relacionamentos que cultivamos. O respeito mútuo, a confiança e a aceitação que esse aprendizado gera abrem as portas para o bem-estar e a felicidade. Magda dizia que, “Sorte é a da criança que cresce com pais que aceitam e amam a si mesmos e, portanto, podem aceitar e amar seu filho, que os lembra tantas vezes de si mesmos”.

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