Uma Perspectiva Diferente Sobre O Dia da Mulher
- Bárbara
- 8 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Todo ano, quando o dia 8 de março chega, me bate uma sensação de deslocamento. Não sinto que esse dia me representa, e imagino que outras mulheres também se sentem assim após receberem aquela chuva de mensagens de "Feliz Dia Internacional das Mulheres”. Recebemos algumas piadinhas de mal gosto e outros textos compridos e super emotivos, descrevendo uma mulher com a qual nem sempre nos identificamos.
Esse dia foi criado no final do século XIX nos EUA e na Europa em celebração à luta das mulheres da época por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto. Existe um filme de 2015 chamado "As Sufragistas" muito interessante, que retrata o movimento pelo sufrágio feminino durante essa batalha política. Desde então, as mulheres em (quase) todas as partes do mundo tem a oportunidade de exercer o voto e foram feitas algumas melhorias em relação à qualidade de vida dentro e fora do mercado de trabalho. Mas todos sabem que as oportunidades de emprego e salários ainda são limitadas para as mulheres, além de dar poucas oportunidades para que a mulher permaneça ativa no meio de trabalho enquanto também atua como mãe. Existem muitas outras questões complexas e importantes que ainda precisam receber a nossa atenção, como a cultura do estupro, a violência doméstica contra a mulher, e os padrões de beleza doentios que impossibilitam a auto-aceitação e dificultam o amor próprio. Sei que muitas pessoas mais bem preparadas do que eu estão fazendo esse trabalho no momento, ajudando a trazer esses problemas à tona e utilizando o Dia Internacional da Mulher para chamar a atenção do público. Eu, contudo, irei me arriscar hoje a fazer uma reflexão um pouco diferente.
Quando era mais nova, me interessava muito pela ideia de lutar pelo meu espaço ao lado dos meninos. Como adolescente, eu era líder de banca de punk rock, usava bermudão e andava de skate. Com o tempo percebi que estava me igualando aos rapazes de uma forma que não parecia ser natural para mim, e comecei a buscar o meu conceito de feminino. Ao longo dos anos fui me debatendo com ideias que se diziam ser "feministas" e que me confundiam bastante. A impressão que eu tinha é que essas mulheres, assim como eu fiz na adolescência, tentavam se igualar aos homens através de conceitos errados até mesmo do que é o masculino, quiçá o feminino.
Vejo mulheres que interrompem o próprio ciclo menstrual com medicação e se doam completamente ao ritmo desenfreado do mundo corporativo, se entregam às tentações do consumo desenfreado do capitalismo e dependem das clínicas de estética e salões de "beleza", mas não conhecem o próprio corpo e se desconectaram de seus ritmos naturais interiores. Uma vez que ganhamos a possibilidade do voto e de ingressar no mercado competitivo, nos vimos forçadas a nos lançar com toda garra e agressividade a um mundo que não te dá tempo nem espaço para se entrar em contato com a essência do nosso ser mais profundo. Acho que nesse processo perdemos o contato com o nosso poder natural feminino, incluindo também o lado dito "feminino" presente nos homens.

Eu gosto muito da concepção do yin e yang de acordo com os taoistas: duas metades que, juntas, completam a totalidade perfeita. Quando algo é inteiro, por definição, é imutável e completo. Então, quando se separa algo em duas metades, isso perturba o equilíbrio da totalidade. Ambas as metades estão perseguindo uma a outra enquanto buscam um novo equilíbrio entre si. O yin e yang são o ponto de partida para a mudança. Muitas coisas podem ser retratadas através da dualidade do yin e do yang, dentre elas o feminino (Yin) e o masculino (Yang). Mas nem Yin nem Yang são absolutos. Nada é completamente Yin ou completamente Yang. Um contém o ponto inicial para o outro aspecto, assim como o dia se torna noite e a noite se torna dia.
Acredito que o mundo precisa entrar mais em contato com o seu lado "feminino" ou "yin" de ser. Se voltar para dentro, se entender e analisar profundamente, cultivar o silêncio. Precisamos encontrar o balanço no meio de um mundo tão "yang", quente, exteriorizado, vulgarizado. Onde tudo é culpa do outro, onde a felicidade vem em forma de um bem material ou de uma pessoa desejada. Sempre voltada para o locus externo, desprendida do espírito e entregue às tentações da carne. Os homens, presos por um estigma de "força" e "dureza" não se permitem sentir e se entregar.
Precisamos todos re-descobrir o nosso lado feminino. Então nesse Dia Internacional das Mulheres, convido todos a fazerem essa reflexão e procurar o nosso equilíbrio interior entre o yin e o yang. Acredito que a mudança maior no mundo precisa acontecer primeiro dentro de nós, para que então elas possam se espalhar em forma de ação e transformação.
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